quinta-feira, agosto 18, 2011

O mesmo que afaga e escarra.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
(Versos Íntimos-Augusto dos Anjos)




Tenho medo do tempo.  Medo de como ele pode influenciar nas nossas vidas, mas por outro lado, o vejo como esperança disfarçada capaz de cicatrizar as mais profundas feridas. Responsável por aquele vento que faz virar a página e muitas vezes rasgá-la para que não haja como relê-la.
De repente o tempo nos torna desconhecidos. Tornamos-nos passado. Não rimos mais das mesmas situações, não seguimos as mesmas ideologias, deixamos de nos preocupar com certas coisas e passamos a nos preocupar com outras. O que é cruel no tempo é que ele também leva pessoas. Pessoas que amamos que faziam parte dos nossos planos futuros e que agora, não sei se bem ou mal, se tornaram uma leve lembrança.
Às vezes ele até parece generoso e as leva apenas para longe de nós, para um lugar onde se possa refazer-se e esquecer. O pior é quando ele faz-se de vilão e as leva pra sempre, para um lugar onde não sabemos ao certo onde é, onde não se pode mandar notícias, impossível de olhá-la de longe ou apreciar seus gestos suaves. A morte é, certamente, a maior crueldade do tempo. Ela tira de nós aqueles que mais amamos, mas ai ele vem cicatrizar mais uma ferida, amenizar mais uma dor até que ela se torne suportável.  Vem lentamente. E aos poucos o tempo nos conforta e conforma que a vida é assim, intensa e perturbadora como o tempo que afaga, mas também escarra.


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